Original Article: American Acoloytes: Resurgent, Shining India: The Cultural Appropriation of Vivekananda by Indian American Hindus
Author: Vinay Lal

*Índia Ressurgente e Iluminada: A Apropriação Cultural de Vivekananda pelos Hindus Indo-Americanos

Parte IV de Vivekananda e Tio Sam: Histórias, Estórias, Política

[esta é a parte final da série de 4 partes; ver também partes I a III, que são as entradas prévias neste blog]

Nos Estados Unidos, Mohandas Gandhi há muito é a figura mais bem conhecida da Índia. Nos primórdios da década de 1920, seu admirador americano, John Haynes Holmes, um influente ministro unitário e pacifista cuja oposição de princípio à violência levou-o a se opor ao envolvimento americano em ambas Primeira e Segunda Guerras Mundiais, expondo-o, assim, ao ridículo dos gostos de Theodor Geisel (também conhecido como Dr. Seuss) - “Se queremos ganhar”, escreveu Dr. Seuss, “temos que matar japoneses, quer isso deprima John Haynes ou não. Podemos ficar amiguinhos depois com aqueles que sobrarem” - já tendo proclamado Gandhi em uma palestra pública como “o homem mais grandioso no mundo hoje”; em outra palestra pública, ele falaria sobre “a significância mundial de Mahatma Gandhi”. Claramente, é o movimento de direitos civis americano que, novamente, ajudou a tornar Gandhi praticamente um nome familiar nos Estados Unidos, apesar de que pode-se também pensar em tais grandes momentos na imaginação popular como estas letras por Cole Porter:/p>

Você é demais!

Você é Mahatma Gandhi.

Você é demais!

Você é Napoleão Brandy.

Há uma história completa, bastante diferente das narrativas que circulam atualmente sobre a “revelação” ou “influência” de Gandhi, a ser escrita sobre como Gandhi ganhou o imenso capital cultural da Índia. A esse respeito, Vivekananda apresenta algo como contraste: não obstante o fato de que Vivekananda teve sua parte de admiradores no ocidente, entre intelectuais ou aqueles que sempre foram uma pequena minoridade, com um interesse duradouro em “religiões orientais”, ele permanece uma figura quase que inteiramente desconhecida à maioridade do povo não indiano na Europa e mesmo nos Estados Unidos. Mas não é exagero sugerir que entre pessoas de origem indiana por toda a diáspora, e principalmente nos Estados Unidos, que Vivekananda está muito lentamente substituindo Gandhi como o representante supremo de sua ideia de Índia. Pois mesmo com seu status como “pai da nação”, Gandhi nunca foi muito atraente para aqueles nos cenários diásporos que imaginam-se como a vanguarda de uma Índia ressurgente e moderna. Vivekananda também é menos controverso que Gandhi: desde que seus escritos receberam muito menos escrutínio do que os de Gandhi, ele também é visto como um crítico mais severo do sistema casto e mais “universal” em sua mentalidade. Não se pode imaginar, por exemplo, o tipo de demonstrações ao redor da estátua de Vivekananda em Chicago como as que ocorreram em torno das estátuas de Gandhi, tal como a demonstração em progresso ao longo das últimas semanas em Cerritos, uma vizinhança na grande área metropolitana de Los Angeles, onde uma multidão descontente de algumas dúzias de pessoas têm, bastante absurdamente, descrito Gandhi como “um amigo de Hitler” ou um “molestador de crianças”.

Também há uma história mais recente da aproximação de Vivekananda por organizações indianas nos Estados Unidos, uma história que amplamente sugere que o enorme status icônico de Vivekananda adquiriu-se como uma figura proeminente da noção de uma Índia ressurgente. Não é surpresa que ele é o santo patrono da Conselho Estudantil Hindu, que bastante modestamente e astuciosamente descreve-se como um “fórum da juventude internacional fornecendo oportunidades de aprender sobre a herança, espiritualidade e cultura hindu”. O HSC é, naturalmente, a divisão jovem do Vishwa Hindu Parishad, e foi ativo principalmente nos campi americanos, servindo às necessidades do que, às vezes, são chamados “estudantes patrimônio”, ou segundos - e até mesmo indo-americanos de terceira geração, que estão ansiosos para aprender sobre hinduísmo, Índia antiga, a modernidade do hinduísmo, e as afrontas aos hindus em países onde são uma minoridade. As forças organizacionais do HSC podem, razoavelmente, ser deduzidas do fato de que em 1993, no centenário do discurso de Vivekananda ao Parlamento Mundial das Religiões, realizou a “Visão 2000 - Conferência Global de Jovens” assistida por 2000 estudantes hindus dos EUA, Índia, e aproximadamente 20 outros países estrangeiros.

vivekanandaFlyer

Um panfleto do HSC anunciando um evento para celebrar Vivekananda em 2006. O panfleto alega que “Vivekananda é a face moderna do hinduísmo”.

Vivekananda é a única figura do relativamente recente passado indiano que é mais admirado nos círculos do HSC como alguém que não apenas falou para a juventude da Índia, mas abertamente sugeriu que a Índia fosse posicionada para conquistar o mundo com sua rica herança espiritual. Foi Vivekananda quem, do ponto de vista de Vishwa Hindu Parishad e do Conselho Estudantil Hindu, transformou com sucesso o hinduísmo de uma religião fechada em si para uma religião global, como uma vez tinha aspirado a ser, conforme espalhava-se através da Tailandia, Java, Bali, e Indochina. A “Conferência Global Dharma” do Conselho Estudantil Hindu, realizada em Edison, Nova York, em 2003, foi, assim, não apenas uma homenagem à concepção de Vivekananda do hinduísmo como uma religião global, mas uma afirmação da capacidade do hinduísmo de organizar seus seguidores e receber seu lugar juntamente das outras religiões mundiais. A Fundação Hindu Americana, uma organização de antiguidades relativamente recente montada por jovens profissionais indo-americanos que foram agressivos em anunciar suas queixas como os defensores de uma fé que alegam ter pouca visibilidade e respeito nos EUA, assim como fazem prosélitos sobre a mentalidade hinduísta unicamente tolerante em relação a outras religiões, tem sido igualmente entusiasta em avançar Vivekananda como o ícone máximo do ecumenismo do hinduísmo e dispensação espiritual exclusiva. O quinto campeonato de redações “Próxima Geração” da Fundação encoraja jovens indo-americanos a refletir sobre os ensinamentos de Vivekananda na ocasião de seu 150ª aniversário, e os dá a tarefa de comentar uma citação de Vivekananda mantendo em mente que, para citar de um comunicado de imprensa da Fundação: “Em uma mera saudação de cinco palavras de “Irmãos e irmãs da América”, ele [Vivekananda] repassava os antigos ensinamentos do hinduísmo de Vasudhaiva Kutumbakam, inspirando tantos na audiência e incontáveis outros americanos a viver à altura do entendimento dharmico do pluralismo e respeito mútuo. Seus ensinamentos, como o hinduísmo, continuam a sustentar-se no teste do tempo e servir como uma inspiração aos hindus e não hindus da mesma forma”.

“Essa é a história de um fenômeno”. Foi assim que Christopher Isherwood começou sua biografia elegante, até mesmo hipnotizante, Ramakrishna e Seus Discípulos. Isherwood conta muitas estórias - e me instiga a concluir com uma de das muitas narrativas, amplamente apócrifa, que agora tornou-se parte da lenda que cresceu em torno de Vivekananda e seu legado nos Estado Unidos. Nos anos 80, como um aluno graduando-se na Universidade de Chicago com uma carta atração a Sri Ramakrishna, tornei-me um visitante frequente do Centro Vivekananda em Hyde Park. Com o tempo, cheguei a descobrir que, sob liderança de Swami Bhavananda, território foi adquirido em 1968 na periferia de Ganges, Michigan, e o Monastério e Retiro Vivekananda foi devidamente estabelecido no meio de um cenário maravilhosamente bucólico. Ao perguntar como Ganges havia adquirido esse nome, foi-me dito pelo residentes do monastério que a cidade foi fundada por um antigo seguidor de Vivekananda; outros mencionaram que o discípulo em questão foi o governador de Michigan, e que, em honra do swami indiano, ele deu nomes indianos a duas cidade, a outra sendo Nirvana. No momento, encerrei meu questionamento na questão, inclinado a aceitar a visão que a história era válida de ser contada a outros, qualquer que seja sua veracidade. Em anos recentes, como o lugar de Vivekananda cresceu tremendamente no imaginário diaspórico, pensei valer a pena investigar mais essa história e não encontrei nenhum pedaço de evidência para corroborar a visão defendida pelos membros do Monastério Vivekananda. Assim, Walter Romig, em seu razoavelmente autoritário Michigan Place Names, afirma que Ganges foi estabelecido em 1838, e então “nomeada pelo Dr. Joseph Coates, um membro da legislatura de Otsego, em homenagem ao rio sagrado da Índia, por razões desconhecidas”; o de Nirvana, ele diz que é “budista para o mais alto céu”, e adquiriu esse nome da grande admiração que Darwin Knight, o primeiro carteiro da cidade, suportou pelas “religiões orientais”. Mas isso irá importar aos seguidores e discípulos de Vivekananda na América e ao redor do mundo? Deveria? O que poderia ser mais divertido, afinal, do que chegar em Nirvana, e então deixar alguns cartões postais para amigos e membros da família anunciando a chegada dele (Vivekananda) em Nirvana?

Swami Vivekananda (1863-1902)

Swami Vivekananda (1863-1902)

[As quatro partes foram primeiramente publicadas todas juntas, apesar de que em uma forma muito mais breve, no OUTLOOK, Edição da web]